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  • Foto do escritorColetivo CEDA-SI

MUSEU

Pesquisa de campo

Louise Lucena

01/11/2018

Museu


Solos

Nos olhamos e nos reconhecemos. Invisível. Marginal. Está não estando. Querendo sem querer. Sendo. Vendo. Observando. Sentindo o vento, sol, terra. A vida nos detalhes. Brutal com delicadeza. A suavidade que queima.

Um silêncio que se dissipa no invisível. O ar concreto, sentido, às vezes retido, porém, não apreendido nas mãos. E como a vida e a morte, se entrelaça, contamina, funde, transpassa... Flui. Fluxo. Agrega, soma e domina. Manipula. Provoca. Impõe. Molda. Possui poder sobre nossos corpos. Aniquila. E também ergue. Acolhe. Movimenta. Muda. Transcende.

O abandono e a perda são experiências inerentes à vida. A sociedade da ilusão, do êxtase e da alegria, se priva, puni e condena viver e passar por esse tipo de fenômeno. O modelo e projeto de sociedade moderna e contemporânea, da forma como se constituiu, e chegou a globalização, se tornou um projeto prepotente da raça humana. Ao mesmo tempo que “evoluímos”, em termos de tecnologia e “conhecimento”, involuímos em termos de humanidade. Cada vez mais nos tornamos peças de um grande tabuleiro sem direito a pensar, sentir, ser, viver. Condicionados a acreditarmos em uma ilusão, cada vez mais tendo nosso tempo roubado em segundos, chamados de eficiência, somos treinados para crermos que somos livres, enquanto vítimas (e algozes), de um projeto de alienação profunda desenvolvida pelo sistema. Sendo compelidos a acreditarmos que basta seguir as regras e tudo ficará bem, não percebemos as armadilhas inseridas no jogo. Fomos condicionados a jogar sem termos tido a chance/oportunidade de ter o direito à escolha.

No entanto, às vezes, a oportunidade-milagre aparece. Despertamos. E talvez a maior sabedoria seja perceber compreendendo, em sua plenitude, como inteiro, sendo parte e todo ao mesmo tempo.

Responsável por si. Entendendo essa responsabilidade como a responsabilidade do todo. E enquanto parte, compreendendo a diferença.

Iguais a células cancerígenas, adoecemos e nos atacamos. Morrendo, sonhando viver. Anestesiando o corpo no cansaço, apatia, obediência. Fúria sufocada que pipoca como espirros e espamos. Medo através do terrorismo da morte violenta com dor além do imaginável. Inferno na terra. O que é inferno?!

A violência evoluí seus mecanismos junto com o sadismo presente na loucura humana. Éramos bárbaros quando violentávamos carne e somos agora que violentamos carne. Se mente é corpo, morremos. Morremos por destino, fato, construção, tensão. Morremos assim que nascemos e todos os dias. A cada segundo. Às vezes nos transformamos. Quando nos transformamos, vivemos. Nos tornamos eternos porque continuamos a existir.

E o que é vida diante de um morto vivo? E vivo morto? O que é a morte? O que é a dor? O que é violento? O que não é? A subjetividade de nossa existência é única, e sendo única, sua verdade é apenas sua verdade. Portanto falar de coletivos, grupos, colocando muitos rótulos e especificidades, se não for para celebrar a diferença, alimenta a doença do sistema. Potencializa.

Maior do que um conhecimento intelectual e passabilidade social, são as ferramentas de manipulação para sustentação e continuidade das estruturas sociais e do sistema mundo moderno que se mantém através da violência, do medo e da dor. E como droga, de tanto pensar e temer, reproduzimos e vivemos esses elementos a todo instante, em cada estrutura social e de poder, manifesta também na ausência, invisibilidade, esquecimento, apagamento de si, do outro, do que nos constitui (ou não), de não estarmos sós e ao mesmo tempo, o tempo todo sozinho.



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