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  • Foto do escritorColetivo CEDA-SI

Relato das visitas aos espaços abandonados by Victória Oliveira

Quando um espaço grita pelo excesso de introdução e por falta de conclusão: algo sempre há de faltar...

Poeira

concreto

espaço

tombado

Cada espaço tem a sua poeira. Um resquício de concreto que vira pó, que vira a composição do espaço, ou seja, daquilo que já representou ou que tantas vezes nem chegou a representar, mas que foi projetado, às vezes inacabado, abandonado, invadido, às vezes tombado.

discursos

semidiscursos

realidade

resquícios

vento

Os espaços abandonados demonstraram para mim discursos, ou semidiscursos que a sociedade muitas vezes não assumiu. Ou que anteriormente assumiu e que atualmente se tornou distante da realidade. Seus resquícios em forma de parede, de pichações, de manifestações, de contato com o vento. Ou simplesmente o cansaço em uma ideia que parecia boa para alguns, mas que na prática não pôde ser levada adiante por outros.

Sopro

Crenças

Pista

E para cada lugar, um tipo de sopro sentido. Um sopro com infinidades de histórias que foram vivenciadas ou inventadas, de crenças, de levantamento de questões e reflexões. Me senti quase como buscar por esperança, alimentando sentimentos de expectativas, alguma pista, algum resquício de vida.

É um momento em que meditamos através da vibração e energia, do querer e não querer determinado sentimento e sensação, de se demonstrar vulnerável e perceber que também somos esses espaços, seja no âmbito da aparência externa e também da manifestação da nossa interioridade.

Houve diferenças entre um espaço PROJETADO PARA SER ALGO, e o que ele de fato é. A apropriação dos espaços com o verbo “assumir” é uma relação muito interessante, pois para mim cada um assume da forma que lhe convém. Uns espaços totalmente escancarados ao abandono e desprezo, outros ao assumirem uma não existência, outros a nudez ao que não é possível fugir e ainda outros que assumem ser palco para ambientes que incitam a hostilidade e violência.

Como se consolidam, portanto, esses espaços no momento presente? Há, a meu ver, divergências entre passado, presente e futuro e a própria existência física desses espaços. Poderíamos dizer existir, tal qual com os seres humanos, uma crise de identidade desses espaços?

Além disso, em muitas das minhas visitas, fiquei imaginando a questão da tonalidade, luminosidade dos espaços. A questão do cinza e a sua seriedade, imposição, junto a locais mais escurecidos em tonalidades em preto, mas que também nesses mesmos locais eram manifestadas cores mais vivas nas paredes, partindo de grafite e pichações em laranja ou roxo, por exemplo.

Peguei-me pensando se a falta de algo poderia ser tida pela falta de rotina ou constância na vida desses locos esquecidos. E constância me fez pensar subitamente em outra coisa. Um sentimento de esquecimento. Estava ali também uma palavra que sempre martelava em minha cabeça ao visitar os espaços: AUSÊNCIA. Claro que tendo cada um uma vibração, uma apreensão, uma tensão ou mesmo uma tranquilidade diferente. Mas estava ali. Uma das experiências mais misteriosas para mim sem dúvida foi esta: da ausência se tornar a presença em determinado contexto, determinado espaço.

E para cada registro do espaço escolhi um tipo de papel para meu registro em forma de desenho... Vegetal, manteiga, canson, fotográfico.

Cada um com sua organização, organicidade, sua existência em forma de fibra, sua porosidade. No fundo, estamos falando indiretamente de sistema e da organização dessas fibras, ao mesmo tempo da sua flexibilidade com a própria matéria. Uma grande verdade a ser dita depois dessas visitas aos locais abandonados: As experiências nos espaços tidos como “vazios”, na realidade pouco carregam dessa característica e nome.

Para cada espaço, um chão para se pisar, uma horizontalidade.

Tentei me afetar e buscar vibrações dos espaços abandonados, mas dificilmente me afeiçoei aos mesmos.

O que é um espaço corrompido? Um espaço esquecido? E o que é um espaço que corrompe? Que quer se impor?

Começo me questionando sobre o porquê de alguns espaços serem manifestados pelo viés do esquecimento e da imposição. Diz muito sobre os jogos que fizemos no espetáculo deste projeto, quando nos colocamos como vitimas ou algozes. Assim o é com os espaços.

Você já esqueceu algo e deu falta deste algo depois de um tempo? O que nos faz avançar ou retroceder para querer ou não levar determinada coisa, pessoa, questão?

O que foi maior do que a curiosidade em explorar e estar nos espaços abandonados?

Medo? Prudência? Falta de proteção?

Sentimento de Não pertencimento?

Relações com a primeira e a segunda cena do espetáculo “Pequeno Tratado de Violências Cotidianas”.

Violências invisíveis- ocultas

O espaço dita muito a comunicação e o tipo de violência ou até de não-violência.

Violência acontece para quem é estrangeiro no espaço- Falas de Louise

Territorialização e desterritorialização- pensar sobre isso

Pensar sobre força de cultura

Ser uma pessoa discreta ao se chegar a um espaço desconhecido

Sufocamento

Sombra

Medo

Tensão

Receio de presenciar algum tipo e/ou resquício de violência,

Tempo dilatado nesses espaços- tempo da espera que joga com o bom e o ruim.

Rastros- em busca de rastros que se tornam muito mais significativos, vivos e consolidados nesses espaços.

Minha dificuldade em me colocar como opressora, sendo que fazemos isso todo o tempo no convívio social, mesmo que inconscientemente.

Relação dos espaços e a ansiedade.

COMO SERIA REGISTRAR A PERSPECTIVA DO CLARO ESCURO EM CADA LOCAL ABANDONADO?

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